Azagaia (Edson da Luz), nasceu a 6 de Maio de 1984 na vila da Namaacha, província de Maputo, filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana, e morreu a 9 de Março de 2023. Aos 10 anos de idade mudou-se para a cidade de Maputo, onde deu continuidade com os seus estudos até o ensino superior. Rapper e activista social e dos direitos humanos, usou a música para denunciar injustiças e desigualdades sociais.
Inicia a sua carreira musical no gênero hip-hop entre 1996/97 com o nome artístico de Azagaia, instrumento de guerra e de pesca, composto por uma haste de madeira curta e por uma ponta fina de chifre de animal ou de ferro. Em 2000 grava a sua primeira música no estúdio com o seu colega e rapper MC Escudo, do grupo Dinastia Bantu, e lançaram o seu primeiro álbum em 2005, intitulado Siavuma.
A sua contribuição no processo da construção do Estado Moçambicano, ocorre no período multipartidário, em que com recurso à liberdade de expressão e manifestação artística, aos 23 anos de idade (2007), lança o seu primeiro álbum intitulado “Babalaze” (ressaca em português). Foi com este projecto que se consagrou como artista de intervenção social, em que nas faixas “Eu não paro”, “As mentiras da verdade” e “A Marcha” levantam uma série de questionamentos sobre o modelo de governação em Moçambique, que ele considerava estar baseado na corrupção. Nas mentiras da verdade questionou alguns factos considerados (verdades) incontestáveis, como a morte de Samora Machel, que a revolução e/ou a luta pela independência não foi feita só de canções e vivas – mas que houve traições, torturas e versões escondidas entre os revolucionários – combatentes, e que Moçambique não é tão pobre quanto parece, mas sim é empobrecido.
Este conjunto de elementos, fez com que Azagaia convocasse no mesmo álbum, o povo, as camadas desfavorecidas compostas pelos infortunados, ou seja, os desempregados, injustiçados, analfabetos, camponeses, vendedores informais, apartidários, jovens, vítimas do regime para “A Marcha” (Artigo 51), que tinha como objectivo expurgar do poder os ladrões, corruptos e assassinos.
Com este álbum, Azagaia deu voz aos vários segmentos da sociedade que sentiam-se asfixiados do sistema político moçambicano, e em pouco tempo, passa a ser tratado pela sociedade por “Mano Azagaia”, por respeito e admiração do seu trabalho, espírito patriótico e de cidadania.
A 5 de fevereiro de 2008, em função do aumento do custo de vida, a cidade e província de Maputo ficaram paralisadas por um período de três dias por causa de manifestações populares, que levaram ao bloqueio das principais ruas e avenidas. Na sequência, Azagaia lança a música “Povo no Poder”, onde cantava que as políticas ineficientes são a causa dos protestos sociais no país. Este facto lhe valeu uma intimação na Procuradoria-Geral da República, acusado de incitar a manifestação e de atentar contra a segurança do Estado.
Em 2009 inicia uma pequena digressão pela política através do Movimento Democrático de Moçambique, onde foi candidato a deputado na Assembleia da República, mas a candidatura do seu círculo eleitoral de Maputo (onde fazia parte), foi excluída pelos órgãos de gestão eleitoral (CNE e STAE), e deste modo afastou-se definitivamente da política.
Em 2013 lança o seu segundo álbum, intitulado Cubaliwa, onde se reflectem profundamente as três fases de Construção do Estado em Moçambique, nomeadamente o período colonial (maçonaria), o tribalismo e diferenças étnicas (cães de raça) que foram instrumentalizadas para conflitos armados em África. Azagaia descreveu os Estados Africanos como países do medo, onde impera o subdesenvolvimento devido a corrupção e cleptocracia que afectam a ajuda externa e mantém o país na dependência, pobreza e neocolonialismo (substituição das elites). Mas também criticou a pacificidade da geração que fala em mudança, mas tem medo da mesma e sempre apresenta um comportamento dúbio diante dos problemas da nação.
O conteúdo expresso nas suas músicas foi razão para que fosse convidado para seminários, workshops, conferências científicas, saraus culturais e pesquisas em Moçambique e no estrangeiro. Em 2017, a letra da sua música “Povo no Poder”, no capítulo sobre “Authoritarian responsiveness and the greve in Mozambique”, do livro “Food Riots, Food Rights and the Politics of Provisions”, projecto de pesquisa coordenado pela Universidade de Sussex.
Devido a profundidade da mensagem nas suas músicas é por muitos considerado como o moçambicano mais estudado da actualidade nas universidades através da publicação de artigos científicos, livros, monografias e dissertações, sendo o seu nível equiparado a Eduardo Mondlane e Samora Machel.
Destacou-se por não pôr algemas nas suas palavras – falando a verdade. Azagaia exerceu o seu activismo, criticando objectivamente os elementos que impedem o desenvolvimento de Moçambique e dos Estados Africanos. É por essa razão que tanto acadêmicos, activistas, sociedade civil, líderes políticos e religiosos, pan-africanistas, estudantes, cidadãos comuns, profissionais, entre outros, se revê na mensagem de Azagaia.
Considerado o herói do seu tempo (juventude), com um papel e uma caneta deu um Golpe de Estado ao regime do medo, inspirando o exercício do direito à manifestação em Moçambique (e Angola) sob o slogan povo no poder, primeiro no seu funeral e no dia 18 de Março em todo o país, que foram (novamente) reprimidas pelas autoridades, acusando os jovens manifestantes de uma tentativa de Golpe de Estado.
FIM