Eduardo Chivambo Mondlane nasceu no distrito de Manjacaze, província de Gaza, em 20 de Junho de 1920 e morreu a 03 de Fevereiro de 1969, com apenas 49 anos vítima de um assassinato através de uma carta-bomba. Perdeu o pai muito cedo (1922), tendo sido educado pela mãe e pela família. Aos 12 anos, começou a estudar numa escola da Igreja Presbiteriana.
Em 1936 vai à Lourenço Marques (actual cidade de Maputo) para continuar com os estudos onde concluiu o ensino primário. Depois de concluir o ensino primário, foi a Cambine, frequentar o curso de agricultura, sob a responsabilidade da igreja metodista. Enquanto estudava, Mondlane esteve envolvido nos trabalhos da igreja. Depois de concluir o curso, em 1942, voltou para Lourenço Marques onde a igreja lhe incumbiu a missão de ir ensinar em Dingane o que tinha aprendido em Cambine. Em 1945, consegue uma bolsa da igreja para ir estudar na África do Sul, no Instituto Douglas Lain Smith Secondary School onde concluiu o ensino secundário, em 1948.
Concluindo o ensino secundário Mondlane matriculou-se no mesmo ano na Universidade de Witwatersrand, África do Sul, no curso de Sociologia mas com a ascensão ao poder do partido nacionalista de Daniel Malan que institutiu o Apartheid, foi expulso da África do Sul.
Em 1948, como consequência de muitas dificuldades e frustrações, Mondlane fundou o NESAM – Núcleo de Estudantes Secundários de Moçambique em conjunto com outros estudantes do ensino secundário que partilhavam do mesmo sentimento de revolta contra as injustiças do sistema[1].
Prosseguiu com os seus estudos em Portugal, usufruindo de uma bolsa oferecida pela Universidade de Lisboa. Aí ele conheceu outros estudantes africanos que viriam a ser líderes dos movimentos nacionalistas e anticoloniais de vários países africanos de língua portuguesa, nomeadamente: Mário Pinto de Andrade, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos. Fez o mestrado e o doutoramento nos Estados Unidos da América, onde casou-se com a sua esposa Janet Rae Mondlane.
Nos EUA, trabalhou nas Nações Unidas, no Departamento de Curadoria, como investigador sénior sobre os acontecimentos que levaram à independência dos países africanos. Ao mesmo tempo, ele leccionou História e Sociologia na Syracuse University, tendo se renunciado em 1963 para se dedicar à causa da independência.
O seu contributo no processo da construção do Estado Moçambicano, teve início no período colonial e da luta de libertação. Em 1948 fundou o Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM), que para além dos objectivos de natureza académica, debatia assuntos relacionados ao sistema de administração colonial portuguesa, como a igualdade, justiça e liberdade. Igualmente, contribuiu no surgimento de movimentos nacionalistas em Moçambique.
Em 1961 Mondlane visitou Moçambique, o que lhe permitiu ter contactos com alguns nacionalistas locais na clandestinidade. Foi figura de consenso para liderar a resistência unificada nacional por parte das três organizações nacionalistas moçambicanas existentes na altura, nomeadamente MANU (Mozambique African National Union), UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) e UNAMI (União Nacional Africana para Moçambique Independente).
Com apoio de Julius Nyerere, presidente da Tanzânia, este processo levou a criação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), e no primeiro Congresso, a 25 de Junho de 1962 em Dar Es Salaam na Tanzânia, foi eleito o Presidente da Frelimo, tendo como vice-presidente Uria Simango.
Optou pelo diálogo como a primeira via para a independência, mas devido a intransigência do regime colonial português, chegou à conclusão de que não seria possível conseguir a independência de Moçambique sem uma guerra de libertação, que teve início a 25 de Setembro de 1964, no distrito de Chai em Cabo Delgado.
Com o decorrer da luta de libertação, Mondlane enfrentou várias crises motivadas pela luta pelo poder no seio da FRELIMO. Alguns dos antigos dirigentes da UDENAMO, do MANU e da UNAMI não aceitaram passivamente a ideia deles de não continuarem a exercer o papel de chefia na FRELIMO. A partir desta condição e situação a unidade da FRELIMO começou a ser questionada, ao longo de toda luta armada de libertação nacional.
Mondlane dirigiu a Frelimo durante os primeiros seis (6) anos da luta armada, período de uma fragmentação profunda, em que emergiram duas alas no movimento, a que via a revolução como uma componente essencial na luta e por outro lado, a ala que via a luta pela independência como um ganho maior. Na mesma altura, devido à sua experiência nas Nações Unidas, conseguiu mobilizar apoio da comunidade internacional à luta de libertação. Mesmo com as clivagens internas no partido, Mondlane foi reeleito no segundo congresso da FRELIMO, realizado em Moçambique, em Julho de 1968.
A 3 de fevereiro, Mondlane recebe uma correspondência no seu escritório em Dar es Salaam que continha uma bomba, pela qual foi morto. Os responsáveis pela sua morte até hoje continuam desconhecidos, embora levantam-se hipóteses que apontam para a Polícia de segurança Portuguesa (PIDE/DGS), às alas dentro da FRELIMO que pretendiam tomar o poder e até a algumas figuras políticas da Tanzânia.
Primeiro presidente da FRELIMO, Mondlane é descrito como o arquitecto da Unidade Nacional, defensor do federalismo e participação popular (democracia). Líder ecuménico e com boas relações com actores e indivíduos com linhas de orientação diferentes, a destacar nacionalistas e marxistas (Marcelino dos Santos, Amílcar Cabral e Agostinho Neto), organizações internacionais (Nações Unidas, Líga Árabe) e entidades religiosas. Hoje, em jeito de homenagem, a maior universidade pública e a mais antiga do país carrega o seu nome: “Universidade Eduardo Mondlane”. Eduardo Chivambo Mondlane simboliza a resistência nacional contra o colonialismo português e todas as formas de dominação colonial. Com a sua morte, um Moçambique democrático, federal e de participação popular continua a ser um ideal por alcançar.
Referências Bibliograficas
ARAÚJO, Mária. M. (2012). Eduardo Mondlane e Nelson Mandela: A Autobiografia como Diagnose Social, Cultural e Política. Lisboa: IICT.
BRAGANÇA, Aquino de, WELLERTEIAN, Immanuel. (1978). Quem é o Inimigo?. Lisboa: Iniciativas editoriais.
CHEMANE, O. (2003). A Contribuição de Eduardo Mondlane na Educação em Moçambique: Entre a Tradição e a Modernidade. Maputo: UP.
MONDLANE, Eduardo. (1995). Lutar Por Moçambique. Maputo.
MUSSA, Carlos. (2021). Debates Históricos Contemporâneos sobre o Nacionalismo e Unidade Nacional em Moçambique: O Papel de Mondlane na Afirmação da Unidade Nacional (1962- 2020). In: Estudos Organizacionais. ISM: CIES.
NHAMONA, Elídio. (2021). Mr. Maluleke & CO., de Eduardo Mondlane, e a Polémica do Álcool. Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane, Série: Letras e Ciências Sociais.
NGOENHA, Severino. (1993). Das Indepedências as Liberdades. Maputo: Paulinas.
[1] Sofia Negrão, A VIDA, A LUTA E O ASSASSINATO DE EDUARDO MONDLANE, https://setentaequatro.pt/ensaio/vida-luta-e-o-assassinato-de-eduardo-mondlane