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Dom Jaime Gonçalves

(26 de novembro de 1938 a 6 de abril de 2016)

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Dom Jaime Pedro Gonçalves – Curta Biografia CEPCB

Dom Jaime Pedro Gonçalves nasceu no Povoado de Barrada, Localidade de Nova Sofala, Distrito do Búzi, Província de Sofala, a 26 de novembro de 1938, e perdeu a vida no dia 6 de abril de 2016. Os seus pais levaram-no a fazer estudos primários, e mais tarde ingressou no Seminário de Zóbue, em Tete. Depois do curso do Seminário Menor, frequentou os Seminários Maiores de Namaacha e Malhangalene, em Maputo, onde estudou Filosofia e Teologia[1] e no exterior continuou com os seus estudos no Canadá e em Roma, Itália.

Ordenado como Padre em 1967, Dom Jaime foi nomeado Bispo da Arquidiocese Católica Romana da Beira em 1976, Arcebispo Católico da Beira desde 1984, e reformou em 2012. Foi presidente da Conferência Episcopal de Moçambique e protagonista nos dois sínodos sobre África.

Durante o seu episcopado, Dom Jaime alargou a função da igreja para o âmbito social, enquanto Presidente da Caritas Moçambicana. Isso ocorreu num contexto em que o papel social das igrejas no país havia sido fortemente amputado como consequência do processo de nacionalizações das infra-estruturas religiosas (escolas, hospitais, capelas, entre outras) no período pós-independência com a proclamação do Estado marxista-leninista. Contudo, os desafios de emergência como consequência de desastres naturais e da guerra civil levaram o governo a aceitar a actuação de organizações religiosas, no apoio às populações vulneráveis.

A sua contribuição no processo da construção do Estado, foi mais notória no decurso da guerra civil dos 16 anos, com o seu envolvimento pessoal e em nome da igreja católica em sensibilizar o Governo e a RENAMO a abandonarem a guerra. Em 1989, após grandes esforços de lobby e diplomacia política, conseguiu comover a Renamo e o governo moçambicano a negociarem. Quando as conversações de paz entre o governo e a Renamo começaram em Roma, em Julho de 1990, na comunidade de Sant’Egidio, tornou-se um dos quatro mediadores que facilitaram as negociações[2].

A igreja católica, através da Conferência Episcopal de Moçambique, propôs ao Governo e à RENAMO o diálogo político como meio eficaz para resolver o problema da guerra, um processo em que Dom Jaime esteve activamente envolvido na facilitação. A comunidade de Sant’Egidio desempenhou um papel de unificador entre as partes, ajudando a cada uma delas a um entendimento comum, facilitou a comunicação entre o Governo e a Renamo e criou um processo seguro entre as partes para as negociações de paz[3].

Dom Jaime Gonçalves fez parte do grupo de líderes religiosos católicos que desde o tempo colonial protestaram contra a exclusão social no país.

“Embora depois da sua morte tenham vindo a público discursos de louvor, quer da parte do líder da RENAMO quer da parte do Governo e do partido FRELIMO, olhava-se o arcebispo com muita desconfiança sobre as suas simpatias políticas. Mas, de uma forma geral, o povo recorda Dom Jaime Gonçalves como uma das grandes figuras da cena política, social e religiosa nacional”[4].

Para além da sua actuação como facilitador do diálogo político para a paz, foi também pioneiro na descentralização do ensino superior no país, num contexto em que o governo considerava a abertura de instituições de ensino fora de Maputo uma ameaça à unidade nacional. A Universidade Católica de Moçambique (UCM), com sede na Beira, foi fundada oficialmente em 1995 como uma instituição de ensino superior privada, e é uma instituição da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM). É uma das primeiras universidades privadas do País e a primeira com sede fora da cidade de Maputo e a ministrar cursos superiores sem fins lucrativos. Era na época da sua criação a única alternativa para jovens moçambicanos fora de Maputo de fazer o ensino superior com dignidade.

Dom Jaime Gonçalves é considerado por alguns como sendo um

“Homem de paz, um dos protagonistas da igreja de Moçambique desde a independência até hoje, entrou em contacto com a Comunidade, na segunda metade dos anos setenta, um dos momentos mais difíceis para os católicos (e para os moçambicanos em geral) num país com liderança marxista-leninista. Através dos contactos na Itália, com a Comunidade e com instituições e personalidades políticas, incluindo Giulio Andreotti (ministro dos Negócios Estrangeiros) e Enrico Berlinguer (secretário-geral do PCI), contribuiu de forma decisiva para a melhoria da condição dos católicos em Moçambique[5].

Jaime Gonçalves foi descrito após a sua morte como sendo “uma das grandes figuras de Moçambique”[6], e um dos principais arquitectos da paz. O chefe de Estado Português, Marcelo Rebelo de Sousa, endereçou uma mensagem de condolências ao seu homólogo Moçambicano aquando da morte de Dom Jaime Gonçalves[7]. Na mensagem, o Presidente Português afirmava que Dom Jaime Gonçalves havia sido uma figura incontornável do processo de paz em Moçambique nos anos 90, tendo dedicado a sua vida

a ajudar o próximo e a construir pontes, possibilitando o diálogo entre todos os moçambicanos e, assim, contribuindo para a paz e abrindo caminhos para a reconciliação de todos. A sua actuação constitui, ainda hoje, um exemplo para todos, não apenas em Moçambique, mas um pouco por todo o mundo”.

O que lhe diz ser uma grande figura, foi paradoxalmente o facto de que a paz e o bem estar social que ele mais almejava para os moçambicanos não ser a prioridade das lideranças políticas no país. Essa desconfiança é histórica. Em 1984, como um dos primeiros passos com vista a resolução do conflito armado/guerra civil, a igreja católica, através da conferência episcopal propôs a via negocial e o debate político como a melhor alternativa. A resposta do governo foi negativa, acusando a igreja católica Moçambicana de trabalhar em prol da Renamo.

Após a assinatura dos Acordos de Paz de Roma, a 4 de Outubro de 1992, Dom Jaime  criticou o governo pelo incumprimento da cláusula de inclusão dos ex-guerrilheiros da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança nacionais, levando a que fosse percebido como simpatizante da Renamo. Contudo, também teve grandes divergências com a Renamo quando considerou que esta formação política mantinha ainda em 2012 homens armados em Maringue, Gorongosa[8].

O desafio da paz e reconciliação nacional pelo qual ele lutou e prestou os seus bons ofícios, continua até hoje cada vez mais complexo. Uma busca pelo seu nome no maior órgão informativo privado nacional, o Jornal o País do grupo Soico, retorna zero resultados. Contudo, elogios fúnebres à figura do Arcebispo podem ser encontrados nos grandes media internacionais, tais como RFI, DW, VOA, ou RTP. Por outro lado, uma busca por Marcelino dos Santos, líder histórico da Frelimo e do Estado Moçambicano, e que se recusou a fazer parte do processo de reconciliação nacional, retorna 5 páginas de resultados. Não se pretende comparar a importância ou relevância histórica das duas figuras no processo de construção do Estado, mas sim mostrar os continuados desafios da paz e reconciliação em Moçambique.

WORD: Biografia de Dom Jaime FINAL-11-01-2023

PDF: Biografia de Dom Jaime FINAL-11-01-2023

 

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[1] https://www.rfi.fr/pt/mocambique/20160406-faleceu-hoje-na-beira-dom-jaime-goncalves

[2] https://www.c-r.org/who-we-are/people/jaime-pedro-gon%C3%A7alves

[3] Zeca, Emílio (2010). Estrutura e Análise do Conflito Moçambicano entre Governo e a Renamo. ISRI, Maputo. pp26

[4]  Jaime Gonçalves é “uma das grandes figuras de Moçambique”https://www.dw.com/pt-002/dom-jaime-gon%C3%A7alves-ficar%C3%A1-na-hist%C3%B3ria-como-uma-das-grandes-figuras-de-mo%C3%A7ambique/a-19174249

[5] Moçambique: com o falecimento de Dom Jaime Gonçalves, a África perde um homem de diálogo e de paz

https://www.santegidio.org/pageID/30284/langID/pt/itemID/16028/Mo%C3%A7ambique-com-o-falecimento-de-Dom-Jaime-Gon%C3%A7alves-a-%C3%81frica-perde-um-homem-de-di%C3%A1logo-e-de-paz.htm, 6 Abril 2016

[6]  Jaime Gonçalves é “uma das grandes figuras de Moçambique”

https://www.dw.com/pt-002/dom-jaime-gon%C3%A7alves-ficar%C3%A1-na-hist%C3%B3ria-como-uma-das-grandes-figuras-de-mo%C3%A7ambique/a-19174249

[7] Presidente da República enviou condolências a homólogo moçambicano pela morte de Dom Jaime Gonçalves, https://www.presidencia.pt/atualidade/toda-a-atualidade/2016/04/presidente-da-republica-enviou-condolencias-a-homologo-mocambicano-pela-morte-de-dom-jaime-goncalves/, 11 de abril de 2016,

[8] Dom Jaime muda de discurso e critica a existência de homens armados da Renamo em Marínguè https://verdade.co.mz/dom-jaime-muda-de-discurso-e-critica-a-existencia-de-homens-armados-da-renamo-em-maringue/

 

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