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Joana Simeão

(Nascida em 1939, data da morte ainda desconhecida)

PDF[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”3/4″][vc_column_text]Joana Simeão – Curta Biografia CEPCB

Joana Simeão nasceu em 1939, na Província de Nampula, filha de José Luís Simeão, moçambicano, motorista do Bispo Teófilo de Andrade ligado à Igreja Catolica em Nampula. Frequentou o ensino primário em Nampula, e graças aos esforços do seu pai, deu continuidade aos estudos em Portugal, num colégio de Freiras. Seu percurso académico passa também por Paris, na França. Existem poucas informações sobre a sua infância, amigos que teve em Moçambique, em Portugal e na França, para além dos relatos pessoais dela constantes dos fragmentos da sua vida política que se encontravam em arquivos no exterior.

No processo de construção do Estado em Moçambique, a sua contribuição inicia no período da luta de libertação colonial, através da militância no COREMO, estabelecido em 1965 na Zâmbia, que chegou a desenvolver a sua acção no interior do país, incluindo algumas incursões armadas na província de Tete. O seu percurso de vida foi profundamente marcado pelo activismo político através de grupos de pressão em Moçambique, no período de administração colonial inicialmente pelo Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO), e mais tarde pelo Grupo Unido de Moçambique (GUMO), do qual foi vice-presidente. Viveu e estudou em Portugal e em Franca, esteve na Argélia onde se juntou brevemente à FRELIMO. Contudo, se destacou na Vice-presidência do GUMO em 1974, grupo que em Setembro de 1973, exerceu pressão junto do governo colonial português, de forma a negociar com a Frelimo no contexto do cessar-fogo, na Luta de Libertação Nacional.

Joana Simeão definia o GUMO como uma associação cívica, grupo de pressão com objectivo de criar uma corrente política nova, para fazer surgir elementos novos e dinâmicos, que era a democracia (até então inexistente) na cena política e social moçambicana e portuguesa na altura. É nesse contexto que foi uma das pioneiras na luta das liberdades por meio de mecanismos cívicos e pacíficos, para criar hipóteses de diálogos entre o governo colonial português e a Frelimo e a implementação de consultas populares para se definir o modelo de Estado a ser construído no período pós-independência em Moçambique. Participou de vários comícios em Maputo, Inhambane, Beira, Nampula e Porto Amélia (Pemba) a protestar contra o regime colonial português.

Foi professora de Francês no então Liceu António Enes, em Lourenço Marques (Maputo). Conviveu de forma livre e aberta com diferentes líderes políticos e sociais do então portugués colonial, o que granjeou antipatias de muitos que não advogavam a convivência com os portugueses.

Sua grande preocupação residia no modelo de gestão do futuro Estado Moçambicano. Reconhecia a Frelimo como interlocutor válido para negociar com o regime português pela independência. Entretanto, no que respeitava ao futuro político do Estado, defendia a ideia deste ser elaborado por todos moçambicanos sem excepções. Advogou a necessidade da Frelimo recorrer a uma governação inclusiva e democrática, no qual as diferentes aspirações dos grupos étnicos e tribais possam ter satisfação na estrutura política futura do Estado, de forma a evitar conflitos internos dada a complexidade do Moçambique que se tornava independente. Foi nesse contexto da postura crítica ao sistema de governação que Joana Simeão foi classificada como “reaccionária” e traidora da causa independentista.

Com a independência de Moçambique em 1975, activistas como Joana Simeão foram vistos como opositores políticos frutos de uma mão externa. A sua facilidade em interagir com actores políticos nacionais e internacionais, a postura democrática e defesa pelas liberdades, a atenção que grangeia na altura nos media locais e internacionais, serviram para que Joana Simeão, fosse associada a polícia política portuguesa (PIDE), ainda que sem evidências. Nunca ficou esclarecido como e por que motivo uma agente da polícia portuguesa com missão de infiltrar o movimento “revolucionário” havia de ser amiga pessoal e de conviver abertamente com figuras-chave do sistema político portugues da altura. Após a independência, foi presa pelo governo, apedrejada e humilhada publicamente (seminua), e enviada aos campos de reeducação em Niassa. Foi parte dos grandes julgamentos de Nachingwea, onde aparece a ser exibida aos outros prisioneiros por Samora Machel. Sobre sua morte, narra-se que seu corpo foi depositado em vala comum desconhecida.

Joana Simeão não viu a materialização imediata das causas pela qual lutava, e a democracia só veio a ser adoptada no país a partir da década de 1990 com a Constituição Multipartidária, que tinha objectivo de terminar com a guerra civil (1976-1992) cujas marginalizações étnicas e tribais foram determinantes; e abriu o espaço cívico no país. O princípio de gradualismo, por ela advogada no final da década de 1970 como um compromisso para Portugal aceitar devolver o poder às colônias, é hoje princípio cardinal da governação democrática em Moçambique, e motivo continuado de conflitos armados e de opinião, e de inúmeros debates e publicações científicas. O que mudou no pós-independência é que quem defende o princípio é a mesma FRELIMO que a acusou de traidora na altura.

Hoje é lembrada por alguns segmentos da sociedade moçambicana como uma referência por possuir uma visão independente, por ser a primeira mulher moçambicana a pregar a construção de um Estado de direito e democrático (ate então almejada pelos moçambicanos), onde para além do governo, os diferentes segmentos da sociedade como os partidos políticos, organizações da sociedade civil, grupos comunitários, entre outros podem participar no processo de governação.

WORD: Biografia de Joana Simeão fINAL REVISTO – 17-12-2022

PDF: Biografia de Joana Simeão fINAL REVISTO – 17-12-2022

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